03/07/2009

Você sabe conversar?

O caminho parecia longo, já era madrugada, uma estrada.. asfalto grama verde no caminho.
Lá estava eu, com minha calça Jeans, tênis e olhos atentos à primeira propaganda de cigarro,
Sim, já faziam falta, e isso iria quebrar a minha certeza de finalizar aquele caminho incerto.
Caminhos incertos devem ser percorridos com cigarros à mão, sim..., grandes companheiros, grandes traidores, a madrugada acaricia meu rosto, e meus olhos inexplicavelmente ferviam com a falta de luz, sim, inexplicavelmente, não conseguia entender aquilo, coloquei o capuz cinza, surrado na frente dos olhos e andei mais alguns metros
À direita havia um terreno grande, de chão batido vermelho, dava a real impressão que o sol do final de tarde havia se instalado em cima daquele terreno, a terra era de um vermelho misterioso, na esquerda havia uma casinha simples de tijolos.. com cortinas que cobriam qualquer possibilidade de saber o que acontecia ali dentro, luzes amarelas dentro, sombra de pessoas, barulhos, vozes...
Nos fundos do terreno ví uma cobertura, mesinhas de bar e uma mesa de sinuca pequena.
Aahhh Sr. Bar, as mesas de sinuca te entregaram... apesar da hora já avançada eu tinha esperança de achar nicotina, talvez pilha para o meu aparelho de som que me embalava no caminho incerto.. quem sabe com pilhas extras eu chegasse ou final ouvindo um Black Sabath, Vulgue Tostoi.. quem sabe a trilha inteira de músicas que eu idolatrava.. quem sabe...Pink Floyd welcome my son, welcome to the machine.
Dei o primeiro passo dentro do terreno, era silencioso e vazio, apenas vultos, sombras, mas nada macabro, senti-me acolhido.
Não sabia de onde vinha de qualquer maneira não sabia pra onde ia, onde eu chegasse era lucro, eu traçava uma de linha reta que saía do desconhecido a caminho do desconhecido
Entrei no bar, havia uma atendente, loira, antipática e eu não conseguia ver seu rosto, não interessava, eu queria meu cigarro, e achei, dei a primeira tragada e me fechei.
“Bem cigarro sou apenas e você”, simpatizo mais com você do que com ela cigarro.
Em minutos várias pessoas começaram a chegar, todas com fones de ouvido, ouvindo alguma coisa eletrônica, comemoravam a madrugada que havia chego talvez, todos simpáticos mas muito desconhecidos.
Entraram no Bar, pediram cerveja falavam alto sobre a música que ouviam, era Psy.
Momento oportuno para ter uma crise da autismo, pedi a dose da droga mais forte do lugar, um senhor veio sorrindo, jaqueta de couro cabelos cumpridos, mal lavados cavanhaque, acho que saiu de um filme americano dos anos 60, “born To be wild” eu pensei, me deu um papel azul pequeno, essa é a mais forte.
Acho que minha cara não agradou, eu esperava um conhaque, talvez vodcka, tenho que parar com as minha frases feitas, a droga mais forte... sem comentários.
O caminho do desconhecido começava a ficar cada vez mais hilário e perigoso.
“Vamos lá rapaz, coloca isso embaixo da língua que eu te acompanho!!”, e com um sorriso estranho no rosto ele frisou, “EU SEMPRE TE ACOMPANHO”.
Coloquei o papel embaixo da língua, e tinha idéia do que vinha na frente.. ele ficou falando de Janis Hendrix Led e me lançou todo o seu saudosismo, meus olhos ardiam mais tive que cobrir mais e mais meu rosto... a falta de luz fazia meus olhos arderem o único lugar que fazia eles pararem de arder era dentro do meu capuz, será que eu tinha definitivamente virado autista? ou era o efeito da droga? acho que era efeito da droga.. eu conseguia ouvir o que se passava dentro dos fones de ouvido das pessoas que circulavam pelo terreno, Deus eu ouvia Psy a metros de distância de dentro dos fones de ouvidos daqueles, quase pedi por favor, mande essa droga parar de fazer efeito ou faça eles trocarem de som, eu tenho um Raul legítimo na minha mochila, é de primeira e não precisa colocar embaixo da língua..
Bebi mais, o homem parou de falar, cores forte, crises autistas, dores, sorrisos quase contidos que vinham de lugar nenhum.
Percebi que a pequena casa em frente ao bar tinha um movimento intenso e uma música diferente, com medo dos efeitos daquilo que eu colquei na boca resolvi me esconder dentro do meu capuz, ali era seguro, fiquei quieto, louco autista escutando o coração bater e as gargalhadas alheias.
O sol resolver sair, lentamente, vermelho, combinando com o vermelho da terra, as dores nos olhos paravam pude tirar um pouco o capuz, paguei minha conta, cobraram o preço certo eu paguei a mais, não conseguia mais contar o dinheiro, falar a andar direito, pedi mais duas carteiras de cigarro.. sabia que não iam durar muito.
Fui até o lado da casa pequena onde havia um tanque com um cano de jorrava água limpa de algum lugar, limpei meu rosto, todos saíram da casa, inclusive várias mulheres com cara de menina.
Sentaram na beira do tanque quase nuas e começaram a se lavar, fiquei sem reação, passei uma noite tendo alucinações, filosofando e com medo da casinha.. e ela ali estava o segredo da casinha, o segredo das quatro paredes.
As mulheres foram simpáticas, sentei no chão, acendi um cigarro e fiquei vendo as galinhas bicarem o chão enquanto saíam mais e mais meninas, eram todas agradáveis, mas uma de olhos claros, magra, que por efeito do álcool, do cigarro, do desejo, da insanidade ou do papel embaixo da língua me chamou pelo nome.
"Nunca esperava encontrar você aqui Mitras", eu sorri quis entrar, mas uma senhora não deixou, “
não alunos não podem entrar na escola de dia, só de noite, “de dia só a alunos”, que porra é essa? Alunos no caminho do desconhecido? Merda eu devo ter dado o golpe nesse caminho e gazeado essas aulas.
Definitivamente a minha madrugada foi estranha, mas eu sobrevivera.
Resolvi que o caminho do desconhecido estava de palhaçada pro meu lado, vou seguir viagem, está um dia bom para andar, mas a Sra. Que não deixou eu entrar na “acolhedora casa” estranhamente me disse no ouvido sorrindo,
"volte amanhã", tenho uma menina de olhos claro que gostou de você, eu olhei rápido para a casa, ela sumiu, “volte amanha, na madrugada rapaz.”.
A única coisa que saiu da minha boca foi "ela sabe conversar?"
Sim sabe, com um sorriso malicioso e uma gigante ironia. Ok eu volto.
Não acredito Mitras, ela sabe conversar?
Que pergunta, cheio de cerveja na cabeça no meio do desconhecido, o que foi isso?
Decôro?
Bem, peguei a estrada, coloquei meu fone de ouvido e segui em frente.. bem... se ela souber conversar quem sabe diga quem é.. se eu achar o caminho de volta é claro.

Esse texto é do blog antigo, como o weblogger fez o favor de sair do ar, sumir, sei lá o que aconteceu e enfiou todos os meus textos em um buraco negro cibernético e eu já me conformei com isso, achei este texto aqui no meu pc, com os pés gelados fiquei faceiro e resolvi que devia respostá-lo, aí está.