17/04/2009

Matei Minha Amada

Matei minha amada
quando disse que te queria
Matei minha amada
quando te beijei loucamente

Matei minha amada
Matei friamente,
sem ao menos perceber...
matei minha amada

Foi em uma sexta-feira fria..
enquanto eu jurava amor
minha amada morria
e friamente, eu ainda sentia alegria

Hoje, sentado aqui no sossego da vida
só hoje percebo que matei minha amada
Minha amada liberdade....

Aleister

Texto de 24/12/1999
:)

Rá, achei o texto num dos meus cadernos de anotação, 10 anos depois eu me divirto lendo isso, texto do tempo que ainda assinava como Aleister.

16/04/2009

04/04/2009

Antiquário

Antiquário de lembranças, a rua de pedras azuis escuras, eu já tinha andado por ali.
A fachada da casa era de madeira, azul calcinha, tinha uma varanda. com duas portas, uma pra sala , outra para a cozinha, um cercadinho com uma cerquinha dava o charme da varanda, casas que você só vê no interior, o cheiro de infância nos levava ao inteiror da casinha de madeira, reconheci desenhos na parede, desenho de 24 anos atrás.
A casinha era na verdade um antiquário de lembranças e sentimentos, a madeira do assoalho sempre brilhando.
Eu andava e via aqueles carros correndo dentro da sala, as bicicletas, os jogadores de futebol, camiseta vermelha, calção branco, jogavam da cozinha pra sala, gritavam, corriam...
Havia algum tempo que eu não via jogadores de futebol disputando espaço com carros de corrida dentro da sala, mas o cheiro de infância não deixou que eu estranhasse a cena, andei pela casa como um espectador, sentei na janelinha da cozinha, minúscula, eu já conhecia a vista, sentei e olhei todo aquele terreno, o poço, o galinheiro, o pé de caqui, de pêssego, a cerca de madeira, tudo estava lá, tão de pé quanto deveria estar.
Desci o alçapão até o porão, a escada de madeira ainda rangia, o piso de cimento com corante vermelho, o tanque de lavar roupa, as cordas do varal, a sombra na soleira da porta, tudo era igual.
Subi novamente fui até o sótão, lá alguns conhecidos me esperavam para saber o que fariam com o falecido.
Falecido?
É falecido, cremamos, enterramos? Qualquer coisa que fizermos ninguém pode descobrir que ele morreu, nem os jogadores de futebol, nem os carros na sala, muito menos os índios do quarto, senão some o cercado, a sombra na soleira, e tudo que lhe acalma.
Entre o assoalho do sótão e o forro da sala, logo embaixo, tinha espaço para um caixão, lá ficou o falecido, estranho como foi fácil, como não doeu, sem prece, sem vela, sem abraços, o medo era perder o antiquário, os desenhos na parede... quem diria que ele iria morrer