29/01/2009

Caciques do Nada

A dor da menina era evidente, a levei para dar explicações ao cacique do nada, ela deu os ombros e colocou uma pedra no assunto com uma gargalhada, sabia que seu fim já havia sido traçado e já havia ocorrido, já passou pelo inferno, transou com o diabo, dar explicações era o de menos, nada se explicava, tudo se executava, não haviam nomes, datas, culpados, nem um porque.
Na volta o cansaço dos fatos me corrompia a visão,quanto mais eu acendia as luzes do carro o caminho ficava mais turvo, só escutava sua voz pedindo cigarro, passou pelo inferno mas não tava morta nem muda, eu estava devagar tentando achar a esquina que devia entrar, e ela pedia cigarro, minha mente pedia cigarro, a noite pedia um cigarro, a minha visão pedia arrego, já era hora de parar há algumas horas atrás.
No pára-brisa eu só via vultos, via a minha própria imagem uma ao lado da outra, infinitamente cansada, um caleidoscópio que não deixava eu ver a pista, me via sem camiseta, me descobri magro com um olhar de desespero, já não era mais cansaço, era insanidade, o que eu fazia aquelas horas levando e trazendo corpos que jaziam vivos entre quatro paredes para caciques do nada? Homens semi-deuses que *empapelavam emoções e cobravam seu preço, enfim, eu estava lá.
Já na terceira, quadra ou quinta perdida apareceu o pobre homem, no chão e uma bicicleta velha, deitado com o braço para cima, não seria preocupação uma se eu não tivesse visto a cena pelo retrovisor, voltei para ver o que eu tinha feito , o pobre diabo estava de pé se apoiando na bicicleta, disse que eu bati apenas no guidão e que não tinha problema, que a culpa era dele, e deveria ser mesmo, um bêbado pedindo carona pra alguém que dirigi vendo coisas, se estivesse sóbrio saberia que eu não era a melhor opção de carona, não às quatro da manhã.
Voltei pro volante, minha imagem não sumia do pára–brisa, eu já estava conformado em seguir caminho me olhando, a esquina certa não aparecia, ou já havia passado, eu perderia mais algum tempo pra achar um retorno, ou atropelar outro bêbado, mas nem tudo foi perdido, eu ainda tinha um cigarro na carteira, e graças a minha indiferença a indesejada passageira já tinha desistido de arrancar ele de mim.
Enquanto isso os caciques mandam e desmandam, no fundo você sabe que isso é bom, só odeia regras.

* empapelar nesse caso, se é que ele existe é colocar no papel.

Escrito às 4:17 da manhã, sabe-se lá porque divirtam-se.

27/01/2009

21/01/2009

La Pepper

La Pepper

La Pepper não era nobre, não tinha uma beleza fora do comum, ela era comum, estava na casa dos quinze anos, na flor da idade, sempre companheira, amiga de todas as horas, mesmo quando meu humor patológico fizesse ela se sentir um nada ela estava lá, sempre.
Pobre La Pepper, tinha dois olhos grandes e negros, os leigos diziam que eram duas bolas de gude, eu sabia que dois universo, duas vidas, La Pepper tinha tudo o que precisava dentro de si, a gente sabia, apesar de cara de pouca importância nós sabíamos que ela não era pouco, os dela não viviam quinze anos.
La Pepper era conhecida, todos passavam cumprimentavam ela já estava habituada aos habitantes da pequena cidade também, tinha um incrível poder de saber quem prestava, ou não, apesar de não ser dos nossos, minha companheira La Pepper era respeitada, prova maior da sua sabedoria talvez, nunca disse nada dos habitantes, e ninguém nunca, apesar de ser uma cidade pequena, teve porque falar algo de La Pepper, e isso era raro, todos tem um pecado a ser levantado, La Pepper tinha apenas seu olhar de duas vidas.
Beirando os 16 anos um mal da vida derrubou La Pepper, lhe tirou as forças, ela enrrugou no começo, nunca mal dizendo Deus apesar da pouca idade, nunca maldisse a providência divina, se é que ela existia, mas ela sabia que algo lhe tirava as forças, depois de enrrugada La Pepeer começou a diminuir, eu sabia que aquilo não era normal, todos que vissem saberiam, ela diminuiu muito em muito pouco tempo, cada vez normal, até que podíamos carregar La Pepper na palma da mão, desistimos das macas e dos homens de branco La Pepper se aborrecia, nós víamos no seu olhar apesar de nunca ter reclamado.
Assim, La Pepper caiu nas mãos da morte, de olhos abertos, aqueles dois olhos negros e grandes, ela tinha diminuído tanto que cabia dentro de uma ampola de seringa, quase do tamanho de um grilo, lembrei pela ultima vez dos seus olhos , dois universos, duas vidas, coloquei-a dentro misturei com jagüermaister e num momento pouco elogiável injetei em outro corpo que caiu no chão e debateu-se, desisti da idéia insana dei as costas e conformei com a força das mãos da morte.
Mas o corpo voltou e me olhou, e eu conhecia aquele olho, era o olho negro, era o universo de La Pepper, mas apenas o olho direito era negro, o esquerdo era o olho do velho corpo, eu sabia que La Peper não era só mais uma companheira amiga comum, ela tinha realmente duas vidas nos seus olhos negro, havia sobrado uma ainda... só mais uma chance de enganar a morte... talvez desta vez ela quisesse um gole de jagüermaister que lhe devolveu a vida, afinal de contas, sua alma só voltou com ajuda do destilado, que não poderia faltar, é claro.

07/01/2009

Na Verdade

Eu não sei escrever, não que alguém tenha dito o contrário, sei ler Bukowski, isso basta.
O bastante na maior parte não basta para algumas mentes pouco pertubadas.
Mentes pertubadas não precisam de muito, oxigênio basta, exceto quando não é o bastante....